XVII CMGO reúne especialistas em BH com programação científica intensa
Congresso promovido pela SOGIMIG celebrou 80 anos da entidade, lançou publicação de referência, promoveu oficinas inéditas e anunciou entrega de prêmios.
O XVII Congresso Mineiro de Ginecologia e Obstetrícia (CMGO), promovido pela SOGIMIG, promoveu debates atuais, cursos “mão na massa” e uma agenda que integrou academia, serviço e gestão. Em quatro dias, o evento combinou ciência, formação prática e iniciativas de engajamento de residentes e equipes de consultório.
A cerimônia de abertura destacou os 80 anos da SOGIMIG. A presidente Inessa Beraldo lembrou o legado da entidade: “mais de 100 eventos e 14 publicações entre 2023 e 2025” e reforçou o compromisso com inovação e futuro.
A jornalista Larissa Carvalho, mãe de uma criança com doença rara, emocionou o público ao defender o olhar clínico atento “para além dos diagnósticos simplistas”, durante a palestra de abertura.
Ainda no primeiro dia, dois prêmios científicos foram entregues:
- Prêmio Clóvis Salgado: Márcio Rodrigues, por estudo sobre conhecimento e medos em torno da terapia hormonal no climatério.
- Prêmio Lucas Machado: Alberto Borges, por pesquisa em Uberaba que correlaciona acurácia da ultrassonografia de peso fetal com desfechos perinatais.
A parceria com a SES-MG rendeu a oficina Ciclos da Vida, voltada à rede de atenção integral.
Fechando o primeiro dia, o curso prático sobre lesões intraoperatórias (sutura de reto e bexiga). “A ideia é treinar condutas críticas com segurança e precisão”, destacou o presidente eleito da SOGIMIG, Eduardo Cândido.
No segundo dia, a SOGIMIG lançou a 7ª edição do Manual de Ginecologia e Obstetrícia – especial 80 anos, com capítulos inéditos (bioética, medicina fetal, diversidade sexual e de gênero) e versão digital.
O Fórum Mortalidade Materna em Ação (parceria com a SES-MG) aproximou os mundos da saúde pública e da assistência especializada.
Na sala de cursos, conhecimento atrelado às demandas reais: inserção de Implanon (método de longa duração incorporado ao SUS) e Versão Cefálica Externa, estratégia para ampliar a chance de parto vaginal em cenários selecionados. Os painéis trouxeram atualizações sobre acretismo placentário, novas diretrizes para rastreamento do câncer do colo do útero (HPV como teste primário), bexiga hiperativa (plano terapêutico por fenótipo) e dietas anti-inflamatórias (ceticismo baseado em evidências na endometriose).
O FEBRAQUIZ, a dinâmica de residentes da FEBRASGO, levou o clima de competição para o CMGO. A equipe Laranja Mecânica (BH) levou o título da primeira edição realizada no Congresso Mineiro de Ginecologia e Obstetrícia.
No terceiro dia de Congresso, no painel Soft skills no bloco obstétrico, Cláudia Laranjeira defendeu que liderança, comunicação e trabalho em equipe “salvam vidas” e devem ser treinados com simulação e feedback. A conferência de Frederico Peret revisitou condutas que transformaram a obstetrícia moderna: ocitocina na hemorragia pós-parto, AAS contra pré-eclâmpsia, sulfato de magnésio na eclâmpsia, profilaxia da transmissão vertical do HIV e corticoterapia antenatal.
Já Fernando Marcos dos Reis alertou para os riscos do uso indiscriminado de testosterona em mulheres, lembrando que o consenso internacional restringe a indicação ao transtorno do desejo sexual hipoativo, com formulações transdérmicas e avaliação criteriosa. “Sem indicação clara e formulação validada, o ‘benefício’ estético cede lugar a danos potencialmente graves”, pontuou.
Entre as capacitações, o curso de PTGI com ênfase em CAF e conização atualizou condutas na era do PCR para HPV, reforçando a necessidade de colposcopia qualificada e indicação precisa de tratamento.
No quarto e último dia de Congresso, a diretora Laura Maria Almeida Maia abriu o Prêmio Guilherme Resende de temas livres, um estímulo à produção científica em Minas Gerais.
- Obstetrícia – 1º lugar: Larissa Braga Costa, por análise de hemorragia puerperal em maternidade privada de BH, com foco na qualidade da admissão e manejo oportuno.
- Ginecologia – 1º lugar: Thamires Helena de Almeida, por “Adoção de embriões como alternativa viável na reprodução assistida diante do risco genético ligado ao X”.
Em ação inédita, o curso para secretárias reuniu cerca de 50 participantes. A programação foi construída a partir de pesquisa com médicos e equipes, abordando comunicação, gestão de agenda, conflitos, IA e experiência do paciente. “A porta de entrada do consultório é o atendimento. Preparamos muito o técnico e, às vezes, esquecemos do operacional”, resumiu Juliana Feitosa Dibai da empresa EJ – Apoio à Gestão em Saúde. Para a participante Vera Ferreira, o conteúdo “pé no chão” fortaleceu práticas e abriu diálogo com os médicos para alinhamento de expectativas.