TRAUMAS OCULARES NA INFÂNCIA
Saiba quais os cuidados para evitar traumas oculares na infância e o que fazer se os mesmos acontecerem.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), ocorrem, por ano, cerca de 55 milhões de traumatismos oculares que limitam as atividades por pelo menos um dia do indivíduo afetado; dentre estes, 750.000 necessitam de hospitalização; cerca de 200.000 são traumatismos abertos do globo ocular. No mundo, há em torno de 1,6 milhões de cegos, 2.3 milhões de indivíduos com baixa acuidade visual bilateral e 19 milhões com cegueira ou visão baixa unilateral por lesões traumáticas do globo ocular,. As lesões do globo ocular na infância correspondem a considerável parcela dos casos de cegueira infantil no Brasil e refletem a grande exposição da criança ao trauma.
São mais frequentes em meninos, provavelmente pelas atividades de maior "agressividade" e força apresentada durante as brincadeiras. Muitas vezes, os traumas oculares acontecem mesmo dentro de casa ou na escola, durante atividades esportivas. O trauma ocular é uma importante causa de internamentos em hospitais pediátricos. Constitui grave problema de saúde pública pela morbidade na população pediátrica, sendo uma relevante causa de cegueira unilateral adquirida. Os acidentes domésticos e atividades de lazer predominam entre crianças, enquanto que acidentes automobilísticos, traumatismos ocupacionais e violência predominam na juventude.
A Sociedade Americana de Prevenção da Cegueira estimou que um terço dos indivíduos que perdem a visão por trauma ocular está na primeira década de vida. O prognóstico visual dos traumas oculares é pior na infância, devido à grande tendência a atrofia dos olhos que sofreram traumas perfurantes, resultando no fracasso do desenvolvimento e consolidação da acuidade visual, que ocorre até o oitavo ano de vida. Diversos estudos em centros oftalmológicos são realizados com a finalidade de investigar as principais causas e características epidemiológicas do trauma ocular, buscando alternativas preventivas e melhores opções de tratamento. Os principais estudos são originados de países desenvolvidos.
É complexa a prevenção do trauma doméstico, mas aumentando-se a conscientização dos pais, melhorando a supervisão e a exposição de crianças mais novas aos objetos e às situações potenciais de perigo pode-se conseguir reduzir a sua ocorrência. A perda do globo ocular na infância é um problema de saúde pública. A incapacidade temporária ou mesmo permanente do olho acometido pode acarretar uma série de repercussões sociais e econômicas que poderiam ser passíveis de prevenção pelo atendimento adequado e educação preventiva.
Estudos brasileiros concordam que objetos pontiagudos como facas, garfos e tesouras são responsáveis por mais de 50% dos ferimentos oculares penetrantes. Esse dado reforça a necessidade de se atentar para um ambiente doméstico arquitetado de modo a manter longe do alcance das crianças esses utensílios, além de substâncias químicas - a segunda maior causa de acidentes no domicílio. O tempo de atendimento após o trauma é um fator importante para melhor resultado do tratamento.
O período de maior ocorrência dos traumas foi verificado nos meses de férias infantis (Julho, Janeiro e Dezembro). Esses são meses em que as crianças estão mais envolvidas em brincadeiras e longe do acompanhamento de algum adulto e dentro do período de férias escolares. Outros autores não estabeleceram correlação entre traumas com determinada época do ano (mês, período escolar ou estação).
Supervisão
A supervisão do adulto foi considerada um fator importante na prevenção de acidentes e a presença de um adulto alerta é de grande valor na
prevenção de lesões oculares em crianças. A maior parte dos acidentes (50%) ocorre com crianças de 0-5 anos. Assim, acreditamos que crianças menores de cinco anos são um grupo de risco significativo para traumas oculares, necessitando de assistência integral por parte dos pais ou responsáveis.
Brincadeiras sem supervisão (entre amigos e com animais) ou permitir que uma criança corra com um pirulito na mão pode ser causa de uma grave lesão. Vale ainda lembrar de acidentes com estilhaços de vidro, queimaduras oculares ao se assoprar velas durante comemorações e queimaduras químicas por manipulação de produtos de limpeza e cosméticos.
Em caso de acidentes domésticos, o importante é em primeiro lugar manter a calma! Na maioria dos casos, os sintomas iniciais causam muito desconforto, mas não têm muita gravidade. Se algo entrou dentro do olho, lave de imediato com água corrente fria e procure um atendimento especializado.É relativamente freqüente o acidente com colas do tipo cianoacrilato, resina acrílica que seca instantaneamente, colando cílios , pálpebras, pele, e atingindo o
globo ocular, podendo provocar lesões corneanas, conjuntivais, etc.
Atividades Esportivas
Em caso de algumas atividades esportivas de maior risco, e nas crianças que já fazem uso de óculos, recomenda-se o uso de lentes de maior resistência e com menor risco de quebra. As principais lentes com alta resistência são feitas de policarbonato e trivex. Estudos mostram que no Brasil o futebol é o esporte de maior risco. Caso a criança tenha uma lesão em um dos olhos, ela pode perder a visão de profundidade,pois precisamos dos dois olhos funcionantes para
formar a imagem, ou seja, a estereopsia estará prejudicada. Elas estarão assim impedidas de enxergar os filmes em 3 D, demonstrações exageradas de profundidade estereoscópica.
Em relação aos esportes, as armações dos óculos esportivos devem fornecer campo de visão amplo, alta resistência a impactos, ser de material leve e não apresentar pontos de fragilidade. Existem armações e lentes específicas para cada modalidade, sendo que todas devem ser confeccionadas dentro de normas adequadas de fabricação, para evitar que a criança(ou o atleta) se machuque ou, no caso de um esporte em equipe, machuque um adversário.
A prevenção atinge os ambientes doméstico, profissional, médicos, atletas, entidades organizadoras das regras dos esportes e fabricantes de materiais esportivos,que poderiam reduzir a incidência dos traumatismos oculares nos esportes e domiciliares. Mas cabe à nós, pais e responsáveis, ficarmos atentos e orientar aos nossos filhos sobre os riscos de pequenos acidentes!
A Prevenção é sempre o melhor remédio!
As condições sócioeconômicas, geográficas e culturais influenciam o acesso à serviços especializados, definindo o prognóstico visual dos pacientes. O período de maior ocorrência dos traumas foi verificado nos meses de férias infantis (Julho, Janeiro e Dezembro). Esses são meses em que as crianças estão mais envolvidas em brincadeiras e longe do acompanhamento de algum adulto e dentro do período de férias escolares. Outros autores não estabeleceram correlação entre traumas com determinada época do ano (mês, período escolar ou estação). A supervisão do adulto foi considerada um fator importante na prevenção de acidentes e a presença de um adulto alerta é de grande valor na prevenção de lesões oculares em crianças. Traumas com lápis e caneta acidentes com bola e agressão física.
Os objetos pontiagudos foram mais prevalentes. Estas situações demonstram que pais, professores ou responsáveis devem estar atentos ao ambiente onde a criança vive, brinca e estuda. Os traumas oculares são variados, sendo as abrasões corneanas mais prevalentes.
A grande maioria é resolvida com tratamento clinico. É válido lembrar que algumas alterações oculares como catarata, glaucoma ou descolamento de retina podem aparecer meses ou anos após o acidente. Nos traumas oculares graves, cerca de 30% dos pacientes ficam sem sua visão útil, e isto corresponde, aproximadamente, a 10% de todo ferimento ocular, em crianças. Os oftalmologistas, pediatras, enfermeiros, assistentes sociais e outros
profissionais envolvidos no atendimento de saúde das crianças desempenham um papel importante no aumento da conscientização sobre problemas de segurança ocular entre familiares e comunidade.
Conclusão: A análise epidemiológica do trauma ocular infantil permite elaboração de medidas preventivas baseadas no conhecimento dos fatores causais envolvidos. No ambiente domiciliar, a estruturação de móveis que mantenham utensílios e substâncias químicas longe do acesso das crianças, além de depósitos com sistemas de segurança na abertura podem evitar acidentes oculares infantis. Baseado nos resultados, uma maior vigilância nos períodos das férias escolares sob a supervisão de um adulto pode ser medida profilática para evitar acidentes nesse período do ano onde foi verificado maior incidência, principalmente crianças do sexo masculino. Outra medida seria a criação de centros de referência em oftalmologia longe da região metropolitana, buscando um atendimento mais precoce às crianças traumatizadas evitando danos irreversíveis à visão.
Como prevenir os acidentes oculares com as crianças
Para prevenir os acidentes oculares em crianças algumas medidas podem ser adotadas. Pais, professores e responsáveis devem estar atentos para a adoção de condutas necessárias para evitar acidentes:
Deixar sempre o cabo da panela virado para dentro, prevenindo, as - sim, queimaduras térmicas oculares por líquido escaldante da panela. Manter longe do alcance das crianças os produtos de limpeza. Não guardá-los na parte baixa de armários ou pias. Os medicamentos e algumas substâncias como a soda cáustica e os agrotóxicos são risco ainda maior para as crianças. Não presentear criança com brinquedos pontiagudos, estilingues, facas ou tesouras com pontas. O objetivo é diminuir o risco de perfuração ocular Ter atenção com plantas venenosas e pontiagudas, ao alcance dos pequenos. Plantas domésticas, que sejam pontudas, espinhosas, ou que soltam líquido leitoso podem causar irritação se atingirem os olhos. %u2022 Tomar cuidado com cigarros na boca dos adultos quando estes pegarem as crianças no colo, a proximidade, sem cautela, pode causar queimadura ocular. As fezes de alguns animais, principalmente a do gato e a de aves, podem transmitir a toxoplasmose, doença que provoca inflamação no olho, podendo levar à cegueira. O contágio é feito através do contato das fezes do animal comas mãos da criança, que depois leva a mão na boca. É muito importante ensinar as crianças a lavar bem as mãos, assim que acabarem de brincar com os animais. Orientar as crianças sobre o cuidado com "as aves que bicam", "o gatinho que arranha" e "o cãozinho que morde", pois estes animais podem, mesmo sem querer, ferir os olhos das crianças, durante a brincadeira. Os germes, os produtos químicos e os poluentes podem causar problemas nos olhos das crianças que praticam natação ou outros esportes aquáticos. Por isso, o uso de óculos apropriado é indicado, inclusive os óculos de natação com grau. Orientar as crianças a não coçar os olhos repetidamente, pois a frequência pode facilitar o aparecimento de infecções e levar ao desenvolvimento de doenças oculares como o ceratocone (córnea pontiaguda), a queda da pálpebra, o olho vermelho e o excesso de lacrimejamento. Na escola, os professores devem estar atentos com o uso de objetos como lápis e tesoura, pois podem ferir os próprios olhos ou o dos colegas. Usar cinto de segurança é indispensável também dentro da cidade, onde acontecem a maioria dos acidentes com perfurações nos olhos. Crianças de até 12 anos de ida - de devem estar sempre no banco traseiro. Jamais levar criança, de qualquer idade, no colo, principalmente no banco da frente.
Referência:/Conselho Brasileiro de Oftalmologia
Sobre o autor
Luiz Carlos Molinari é médico e Doutor em Oftalmologia Pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
Atualmente é professor convidado da faculdade de Medicina da UFMG,
diretor da Sociedade Mineira de Oftalmologia e diretor da AMMG (Associação Médica de Minas Gerais).
Fonte: Portal BH Hoje, 7/12/2018