"Coronavírus: Para onde vamos?
José Carlos Serufo - Academia Mineira de Medicina
Estamos em época de coronavírus e da primeira epidemia global narrada em tempo real.
Também é a primeira vez que sob laços democráticos as pessoas mundialmente se auto-confinaram; as macroeconomias e os bancos, movidos pelo pavor da vírgula comendo zeros, se uniram para afrouxar as cordas dos pobres devedores; ignóbeis especialistas povoam os ventos da internet e as pessoas padecem na crença, mas evoluem seus filtros...
A humanidade já passou por outras epidemias de doenças infectocontagiosas, porém num contexto mais lento, talvez mais natural. Nas últimas duas décadas ocorreram inúmeras epidemias de coronavírus, a saber: HCoV-OC43, HCoV-229E, HCoV-NL63 e HCoV-HKU1. Passaram como todas as gripes.
Se não bastasse a tragédia, múltiplos interesses agregam gatos ao "balaio de gatos" para gerar confusão, alimentar o pânico e obter lucros, quiçá prejuízos.
Um complicante velado é a origem do atual vírus mutante. Um estudo mostrou que o genoma do atual SARS-COV2 é 79,6% idêntico ao coronavírus humano SARS-COV, como divulgado. Porém, é 96% idêntico ao genoma do coronavírus de morcego (Nature. 2020 Mar;579(7798):270-273. doi: 10.1038/s41586-020-2012-7). São situações diferentes. Variantes de coronavírus humano vêm causando surtos registrados na memória imune. Um vírus mutante de outra espécie é mais distante para a resposta imune. Mas, sem pavor, ao final venceremos, talvez com mais sofrimento.
O extraordinário sistema imune humano, dará sua resposta e mais uma vez vencerá a guerra contra infecções. Quando o coronavírus atingir cerca de 50-60% da população a epidemia finda. Proteção seletiva dos idosos e doentes desloca a doença para os jovens, cuja mortalidade é <0,1%, conforme observado em estudos da Coreia do Sul. Nos jovens, a maioria dos infectados é assintomática (cerca de 4-8 vezes o número de sintomáticos confirmados pela PCR real time que não detecta memória imunológica). Entre os jovens sintomáticos, a maior parte evolui com síndrome gripal leve, alguns com pneumonia e poucos com gravidade (<1% dos infectados).
Em apoio à já aclamada mitigação, o deslocamento da curva epidemiológica para os jovens otimizará a demanda aos serviços de saúde que, lamentavelmente, já se encontravam no limite operacional antes da atual epidemia.
É fundamental entender que nenhuma medicação será capaz de mudar a curva epidemiológica, exceto uma vacina. Vez por outra, alguma notícia regada à ideociência desvia os focos de atenção, gerando esperança, confusão e lucros. Assim foi a recente onda da "cloroquina trumposa", que poderá ajudar somente na sobrevivência de pacientes graves internados. Diferentemente da malária, é uma panaceia perigosa na ilusão de profilaxia da epidemia. A demanda descomedida incentivará os fabricantes de pílulas de farinha.
Somente a imunidade de massa (populacional) será eficaz no tumulizar desta epidemia. Até lá isolamento social seletivo, proteção de idosos e doentes, independente da idade.
Somente a mitigação da curva epidêmica pelo isolamento social e o deslocamento da epidemia para os jovens sadios, otimizando os recursos de saúde, reduzirá marcantemente a mortalidade.
Isso nos põe em quarentena prolongada. Seria oportuno parar de consumir notícias e de contabilizar mortos. Enquanto isso, sabiamente, cuidar da saúde física e, especialmente, da mental.
Muitos ganhos à vista. As ferramentas da internet, desenvolvidas pelo gênio do homem, serão mais usadas em educação e reuniões virtuais acessíveis e de baixo custo. O trabalho em casa será incorporado em várias atividades, com ganhos pessoais e para a família. A solidariedade...
Talvez o ganho maior, os velhinhos, que um dia seremos, protegidos e finalmente alçados aos píncaros do mérito e da atenção tão importantes no poente da vida.
Muitos ganhos para a saúde. Economia e política cumprimentando-a já no início do dia. Imperdível! O diálogo público-privado, eivado a generosidade. Os leitos e equipamentos tão necessários e implorados nos últimos anos. Ave! A ciência básica acasalou-se de vez com a prática, disponibilizando as melhores e mais confiáveis técnicas de diagnóstico, inevitavelmente extensíveis às demais doenças. A valorização da vacinação e do possível de se fazer por via virtual.
Ao final, não há que duvidar, a vida seguirá seu curso maravilhoso e o mundo mudará para melhor. Ganhos agora não farão bons candidatos. Melhor vestir os óculos da razão e minimizar os prejuízos."
"Coronavírus o quê fazer?
José Carlos Serufo - Academia Mineira de Medicina
O texto "O coronavírus e a ideociência", publicado abaixo, é um alerta para com os expertos que aproveitam esses momentos para auferir grandes lucros. A exemplo do "tamifluzinho". Ainda não estamos livres disso. Neste momento, está em curso a tentativa de lançamento de um antiviral milagroso. Alonguei este tema com o ensaio seguinte "A gripe por coronavírus: interesses e ganhos perenes". No presente, texto e diante de uma epidemia com curso ainda indefinido, é fundamental não negligenciar, pois o clássico deve ser feito e aprendido.
É entendível que os serviços médicos não são capazes de suportar, em tempo curto, um número elevado de casos. Isso torna fundamental a mitigação de epidemias, em particular as infectocontagiosas. Mitigar significa suavizar, atenuar, abrandar, alongar. Em palavras mais simples, deixar uma epidemia seguir seu curso em suaves prestações.
O diagnóstico laboratorial do coronavírus está sendo feito pela moderna técnica de biologia molecular, o PCR em tempo real, não disponibilizado para outras importantes doenças. Que este seja um ganho perene!
Ao nosso favor, o clima quente, que não é favorável ao vírus (nos nossos corrimões e metais, vita brevis) como também o alongamento e abrandamento da onda epidêmica, o que reduz os casos sintomáticos e graves. Isso porque o "sistema imune coletivo", ao interagir com o vírus, doma-o. O coronavírus, que chegou ao Brasil, já apresenta 3 mutações genômicas em relação ao original chinês.
E quais as medidas fundamentais a serem adotadas para conter ou minimizar os danos desta nova síndrome gripal.
- Direcionar os serviços de saúde para a identificação precoce de casos.
- Orientar o uso oportuno de máscara a todos os pacientes com sintomas gripais, e já na entrada dos serviços.
- Distribuir máscaras para os profissionais de saúde, além dos pacientes com sintomas gripais e seus contatos.
- Isolar em casa todos os pacientes com sintomas gripais e seus contatos. Orientá-los para que possam "curtir o isolamento - ler, escrever, ligar para os amigos -, mas depois fazer hora extra..."
- Restringir viagens internacionais.
- Suspender atividades recreativas, tais como campeonatos, shows, festas e comemorações, e mesmo evitar restaurantes, cinemas e teatros.
- Avaliar a suspensão das aulas, caso-a-caso, com ensino a distância, via grupos de Whatsapp e atividades em domicílio.
- Realizar reuniões virtuais - live streaming - onde apenas os palestrantes se encontram e os demais assistem confortavelmente em seus isolamentos sociais. Isso mudará definitivamente os costumes...
• Priorizar o trabalho em casa e o ensino a distância. - Reduzir tudo que é possível, que é eletivo, que é adiável.
- Limitar visitas, em especial, a hospitais.
- Isolamento social de doentes crônicos, imunodeficientes e idosos, sem apologia aos comuns abandonos.
É certo que vamos controlar a epidemia, uns por medo, outros pela razão. A macroeconomia se expôs e as pessoas foram atingidas em sua zona de conforto, isso mudará o mundo."
"A epidemia de coronavírus e a ideociência
José Carlos Serufo, Academia Mineira de Medicina
Vírus se criam na estufa do universo, se reinventam a cada instante no ciclo da humanidade. A maior parte resvala nas muralhas do maravilhoso sistema de defesa e escorre para o nada. Alguns atingem o pátio das doenças e raros vertem gravidade.
Assim, o mais surpreendente dos últimos séculos foi o Vírus da Imunodeficiência Humana, o HIV. Se tivesse chegado há cem anos, teria dizimado a raça humana, tal como o fez a gripe espanhola com 20 milhões em 1918. [1]
Nem mais, nem menos...
Estamos felizmente na era científica que tem habilidades para nos proteger. (sequenciamento do genoma e testes para diagnóstico ficam prontos em dias). A mesma habilidade, que é cooptada para ganhar dinheiro em oportunidades criadas e não...
Não se iludam com os N1s H1s, ou com o rótulo de gripe suína, criado para causar impacto. Lembrem-se do ocorrido, da fase 1, a geração do pânico, seguida do enriquecimento da indústria medicamentosa. [2] [3]
Logo, caiu no baú dos milhares de vírus comuns aos seres viventes. O coronavírus é um desses vírus, nem tão novos (isolado em 1930), com forma de capacete, da estirpe dos vírus menores, os agentes da gripe.
Mesmo neste primeiro momento, de apresentação ao sistema imune, mostra baixa mortalidade (90.893/3110, ou seja, 2,7% contra 4,1% do N1H1.)[4]
Afinal, quem tem medo de morrer de causas comuns? A gripe mata por ano no mundo 650.000.[5]
Dengue matou no Brasil 3.466 pessoas e tuberculose, 59.281, entre 2000-11.[6]
A criação do pânico, via mídia assalariada, vem gerando o ambiente propício a compra de panaceias que, certamente, já se encontram nos porões dessa ideociência oblonga (7). A próxima etapa será o lançamento desta "descoberta", uma droga nova, miraculosa, salvo uma vacina, que levará milhões às filas e bilhões aos cofres sedentos.
É fundamental desmistificar o uso da ciência e da verdade, processo em curso, para criar pavor.
O coronavírus é um dos vírus causadores de gripe com mortalidade semelhante aos demais vírus do grupo. Como as demais viroses agudas acomete mais gravemente os imunocomprometidos, os idosos e as crianças. A mortalidade desta variante viral já é baixa em sua primeira apresentação ao sistema imune. A OMS está correta ao afirmar que estamos diante de uma epidemia. Acresce que todas as gripes, que nos acometem anualmente, são epidemias.
As medidas preventivas preconizadas para o coronavírus são as mesmas para todas as doenças respiratórias aguaas. Quer seja no ambulatório, enfermaria ou CTI, as medidas terapêuticas são as mesmas adotadas para as demais doenças infecto-inflamatórias asssemelhadas, todas do domínio do staff médico dessas unidades
Então, caros colegas, vamos ser ladinos com as informações, preparar-nos para todos os vírus e proteger o cofre da viúva."
Referências
1. http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=815&sid=7
2. http://www.cff.org.br/noticia.php?id=1840&titulo=Tamiflu%3A+bilh%C3%B5es+pelo+ralo%3F
3. http://www.scielo.br/pdf/cadsc/v27n1/1414-462X-cadsc-1414-462X201900010433.pdf
4. https://news.un.org/pt/story/2020/03/1705981. Acesso em 03/03/2020
5. https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-12/
6. https://www.who.int/bulletin/volumes/94/2/BLT-15-152363-table-T2.html
Dr. José Carlos Serufo . 27-02-2020
José Carlos Serufo possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (1976), residência em Clínica Médica (1976-77) e Terapia Intensiva (1978), especialização em Virologia (1979), Saúde Ocupacional (1980), Saúde Pública (1986), Cultura de Células e Tecidos (1988), Administração Hospitalar (1990) e Doutorado em Medicina Tropical pela Universidade Federal de Minas Gerais (1997). Atualmente é professor adjunto da Faculdade de Medicina Universidade Federal de Minas Gerais. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Patologia Clínica, Clínica Médica, Infectologia e Doenças Infecciosas e Parasitárias, atuando principalmente nos seguintes temas: doenças infecciosas, diagnóstico laboratorial, biologia molecular, desenvolvimento e validação de testes para diagnóstico laboratorial, urgências/emergências e netropenia febril. Integrante da Academia Mineira de Medicina (AMM)
Fonte: Escavador (Currículo Lattes)
- O texto é de autoria de José Carlos Serufo e exprime a ideia do autor