Nota de Repúdio da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) – Regional Minas Gerais
A SBEM-MG recebeu com surpresa e indignação à nota técnica da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) de Belo Horizonte que vai interromper o fornecimento de fitas para monitoração de glicose para os pacientes com diabetes, mantendo o fornecimento apenas para crianças com menos de 12 anos de idade e para gestantes e pacientes em diálise renal. A Nota Técnica justifica a decisão em função dos baixos estoques que dispões e afirma que a Secretaria Estadual de Saúde não vai mais fornecer o material no segundo semestre de 2016.
Caso se confirme esta situação é ato extremamente grave na atenção de saúde pública aos pacientes com diabetes em nosso meio.
Como a própria nota esclarece, as fitas são fornecidas para todos os pacientes em uso de insulina há mais de 15 anos, atendendo a protocolos internacionais de tratamento de diabetes, que mostram, claramente, a importância da monitoração glicêmica nos pacientes em uso de insulina tanto para a eficácia do tratamento quanto para a segurança da pessoa que aplica.
O uso de insulina salva a vida das pessoas com diabetes, mas envolve também risco. Sendo a substância considerada um dos medicamentos de maior risco, já que doses relativamente próximas podem resultar em glicemia muito elevada (hiperglicemias). Mantidas assim, aumenta muito o perigo de complicações crônicas do diabetes ou em glicemias muito baixas (hipoglicemias) que podem ter consequências agudas gravíssimas, como perda de consciência, crises convulsivas, acidentes automobilísticos, além de eventos cardiovasculares graves como arritmia cardíaca, infarto agudo do miocárdio ou mesmo acidente vascular cerebral (AVC).
Imaginar, por exemplo, que um idoso em insulinoterapia vai aplicar a substância antes das refeições sem medir a glicose, assemelha-se a aconselhar uma pessoa a dirigir um carro em autoestrada com os olhos vendados. Uma imprudência e negligência com potenciais consequências gravíssimas.
A monitoração capilar da glicose representou uma pequena revolução no tratamento dos indivíduos com diabetes em uso de insulina. Ele é um dos responsáveis pela enorme melhoria na condição de saúde deles, seja pela diminuição de 30 a 50% da mortalidade que vem sendo observada nos últimos 30 anos em todo o mundo, seja pelo ganho de qualidade de vida ou pela diminuição também nos riscos de complicações relacionadas ao diabetes.
O diabetes é uma doença grave. É a principal causa de cegueira adquirida na vida adulta, assim como de falência renal com necessidade de hemodiálise. Além disso, cerca de 60-70% dos pacientes apresentam graus variáveis de doenças neurológicas (Neuropatia diabética), sendo o diabetes também a principal causa de amputações não traumáticas dos membros.
O risco para todas essas complicações, de forma inequívoca, diminui muito com o bom controle glicêmico, especialmente no diabetes tipo 1, sendo a maneira mais eficaz para se prevenir ou retardar o aparecimento dessas complicações, responsáveis por enorme impacto não apenas na qualidade, como na expectativa de vida dessas pessoas e com repercussão impressionante nos custos relacionados à assistência à saúde.
Para se ter uma ideia, de acordo com dados do Instituto de Saúde Americano (NIH), naquele país 10% dos gastos totais com saúde está relacionado ao diabetes, especialmente, pelo custo do tratamento de suas complicações. Ao se avaliar a origem desse custo, cerca de 70% do gasto geral se dá pelo tratamento das complicações, portanto, prejudicar o tratamento da doença, interrompendo o fornecimento de fitas, aumenta o risco de complicações do diabetes. Isso também é uma atitude desumana com essas pessoas e antieconômica, já que vai economizar na parte de menor custo relacionada à doença, aumentando e muito os custos futuros, sejam econômicos, sejam sociais ou humanos.
Para de fornecer fitas para quem usa insulina, significa voltarmos o tratamento do diabetes há 30 anos, quando elas não estavam disponíveis.
Um retrocesso inimaginável, para os tempos de hoje! E de graves consequências para saúde pública.
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas Gerais (SBEM-MG)