O Grupo de Atendimento a Enlutados (GAL) ressignifica atendimento durante pandemia da Covid-19 e transpõe barreiras da Internet
Grupo de Atendimento A Enlutados – Encontros Online
Datas: setembro e outubro, às 19h, todas as terças-feiras. Início: 8 de Setembro
Mais Informações: (31) 3247 1616.
Necessária inscrição prévia, gratuitas.
Começa dia 8 de Setembro. Em tempos de pandemia da Covid-19, o luto ganhou proporções e se fez em uma escala onde não há muito tempo para ressignificar a morte. Pensando em toda a dificuldade imposta pelo novo mundo, o Grupo de Atendimento a Enlutados (GAL), criado pela Sociedade de Tanatologia e Cuidados Paliativos de Minas Gerais (Sotamig), precisou também buscar outros caminhos. Seus encontros antes presenciais, deram espaço ao mundo virtual. Já com datas agendadas para setembro e outubro, eles acontecem via plataforma online com até 15 participantes. Necessária inscrição prévia: (31) 3247 1616.
De acordo com a psiquiatra e fundadora do GAL, Mariel Paturle, este ano o Grupo foi marcado por muitas intempéries. Como se não bastasse, cada participante trazer consigo a dor da perda de um ente querido, muitos se viram impedidos por externar esse sentimento devido as fortes chuvas de março que assolaram a capital e, logo em seguida, viram-se imersos na pandemia do novo Coronavírus. “Fomos obrigados a manter o distanciamento físico. O trabalho que mal começara foi interrompido de maneira abrupta. Mas nos reinventamos e decidimos em maio começar uma experiência inédita com o primeiro GAL virtual.”
Paturle conta que, infelizmente, nem todos os inscritos conseguiram se adaptar à nova plataforma. Mas, para quem seguiu, a retomada foi muito importante. Dúvidas, medos, inseguranças e dor. O espaço para escuta e acolhimento estava aberto de novo. As trocas, as ideias, as reflexões, foram trazendo luz a tantos momentos de solidão e incertezas. Das dificuldades surgiram forças. Dos desafios, superação. E, em pleno isolamento social, criou-se uma forte rede de amparo e bons vínculos.
Segundo a psicóloga e também fundadora do GAL, Júnia Drumond, o processo de luto vem sendo estudado há anos por grandes pesquisadores que entenderam a importância de se conhecer um dos momentos mais desorganizadores da vida humana. Grande parte deles concorda que esse é um processo dinâmico, com ampla variedade de reações e que traz consigo desafios da adaptação diante da perda. “Em tempos da Covid-19 percebemos que muitos processos estão dificultados e até potencializados. Se antes podíamos estar ao lado de nossos doentes até o fim, hoje já não podemos. Se antes havia rituais prontos a serem seguidos, hoje já não há mais. Tudo isso pode transformar o entendimento diante da morte gerando novas reações diante das perdas.”
Difícil? Claro! E muito! Mas há algo que permanece no trabalho com o luto: o exercício do respeito. Respeito à subjetividade e ao significado que cada um dá à experiência que vive. “Sempre houve modelos que serviam como base para entendermos o processo de luto, mas, acima de tudo, sempre houve a certeza de que não há padrões. Não há certo ou errado. Há de haver sempre uma escuta compassiva para conhecermos o outro, a sua dor e o seu mundo, um novo mundo. Hoje, mais do que nunca, precisaremos de abertura, ausência de preconceitos, um preparo para o novo. Não dá para categorizar ou patologizar tudo. E justamente através dessa abertura que a luz pode entrar. É ela que nos dará uma melhor visão diante da nossa humanidade, das nossas perdas, da vida e da morte, explica Drumond.”
E diante de quase 2500 mortes em Minas, 87 mil vidas perdidas em todos o Brasil, sabendo ainda que cada perda afeta em média dez pessoas, o GAL mantém sua proposta de amparo e auxílio na vivência respeitosa desses lutos.